Confusão

Na opinião do educador, pais superprotetores e permissivos produzem filhos agressivos tanto quanto pais agressivos e que os rejeitam. A superproteção inibe no filho a possibilidade dele desenvolver repertórios para lidar com as frustrações.

A escola é um dos principais ambientes onde as crianças são frustradas pelas normas, regras e métodos, e os pais não estão lá para “fazer pelos filhos”. Assim, eles rebelam-se contra a figura de autoridade que é o professor.

Jamar Monteiro, por sua vez, condena os pais que delegam à escola uma função que não lhe diz respeito.

“O papel de acompanhar o crescimento acadêmico, as tarefas, o dia-a-dia do estudante é dos pais. Mas eles, com a justificativa de que não têm tempo, atribuem isso à escola, o que tem gerado uma confusão muito grande.”

Segundo ele, as pessoas convencionaram chamar o professor de educador, mas educador são todos os que acreditam em princípios, valores e querem repassá-los aos mais próximos.

“Tenho observado muitos professores deixando de ser professor para ser psicólogo e terapeuta em sala de aula. Eles estão perdendo sua identidade”, observa.

Essa dualidade professor/educador também é destacada por Feijó.

“O professor mal-e-mal foi preparado para dar a educação pedagógica aos seus alunos. E o coitado, mesmo com um mísero salário, se obriga a estudar além da formação em pós-graduações, para suprir as deficiências do seu curso e atender às demandas dos seus alunos.”

Ele atribui aos pais, muitas vezes ausentes, a educação social dos filhos, uma vez que a escola ainda não está preparada para isso.

Com os pais assumindo a educação social, segundo Feijó, o professor seria o catalisador desse aprendizado no contexto escolar, na vida em sociedade, nas relações entre os alunos e os grupos, preservando assim os valores sociais humanos. Mas isso não ocorre.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) apresentou dados de pesquisa financiada pela Unesco, em 2006, sobre as maiores dificuldades dos professores em sala de aula: manter a disciplina (22%) e motivar os alunos (21%).

Grosso modo, pode-se dizer que no Brasil o professor despende quase a metade do seu tempo e energia para controlar a indisciplina e motivar alunos em sala de aula.

Mas como o professor pode estabelecer limites e controlar a indisciplina dentro da sala de aula?

Para o psicólogo, só existe uma maneira, construindo vínculo com os seus alunos.

Para isso, o professor deverá dispor de um bom nível de habilidades sociais de comunicação; ser afetivo, e procurar reforçar mais comportamentos desejados do que punir os comportamentos indesejados dos seus alunos.

“Professores afetivos (que se preocupam e conhecem as dificuldades pessoais de cada aluno), que são hábeis na comunicação social e que reforçam comportamentos desejados, historicamente não têm dificuldades em sala.

São o que chamamos de líderes autênticos.” Além disso, valores como respeito, cidadania, justiça, humanismo, consenso, responsabilidade, moral e ética, deveriam fazer parte das disciplinas nas escolas para suprir uma deficiência cada vez mais acentuada na família.