Lição de casa

Pais que não educam socialmente e filhos que se insurgem contra os professores são reflexos da crise de valores que se instalou na sociedade.

Entrevistado recentemente pela Revista Kalunga, o psiquiatra Içami Tiba afirmou que muitos pais, hoje em dia, quando questionados sobre a indisciplina e o mau comportamento dos filhos, inclusive contra os professores, se eximem da responsabilidade e atribuem à escola esse papel.

O comentário reforça as opiniões de muitos de que existe uma crise de valores instaurada na sociedade.

“Ela consiste na falta de clareza institucional, em termos práticos didáticos – seria mãe que não sabe ser mãe e pai que não sabe ser pai. A probabilidade desse casal gerar um filho que não terá clareza do que é ser filho é grande.

Logo, na escola, essa criança não saberá ser aluno”, afirma Jamar Monteiro, professor no programa de Gestão Estratégica de Pessoas, da Universidade Bandeirantes de São Paulo (Uniban), também autor dos livros Pais e filhos acertando a emoção e Bullying ou crise de valores?

Na avaliação de Caio Feijó, educador, psicólogo e especialista em Psicologia Organizacional, Educacional e Clínica, da Universidade Federal do Paraná, a violência contra os professores é uma conjunção de fatores.

Começa com o despreparo da escola (estrutura coercitiva, por exemplo, com excessos de autoritarismo) e vai até a condição psicológica-social do aluno (comportamentos anti-sociais).

“Costumo dizer em minhas palestras e conferências que não existem violência e indisciplina na escola. Há, sim, em algumas escolas e com alguns educadores malpreparados”, frisa o autor dos livros Preparando os Alunos para a Vida, Os 10 Erros que os Pais Cometem e Pais Competentes = Filhos Brilhantes (no prelo).

Segundo o educador, indisciplina, agressão e violência dos alunos contra os professores são comuns em todas as classes sociais. Por isso, um grande colégio particular de Brasília o contratou, no ano passado, para capacitar os educadores a controlar a indisciplina em sala e formar vínculo com os alunos.

Há alguns anos, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) divulgou os resultados de uma pesquisa sobre o relacionamento entre professor e aluno de escolas públicas de 14 capitais brasileiras e chegou a resultados alarmantes.

Os estudos da Unesco constataram que 47% dos professores já foram xingados e 11% agredidos em sala de aula. “No entanto, conheço escolas, tanto públicas quanto privadas, onde não há qualquer tipo de dificuldade entre os educadores e os alunos”, comenta Feijó.

Ele relaciona os quatro eixos que, segundo a Unesco, deverão nortear a educação do século 21: aprender a aprender; aprender a fazer; aprender a ser; aprender a conviver junto.

“É impossível para a escola atender aos dois últimos eixos sem oferecer educação social para os seus alunos”, constata.