Estudando o livro de Clarissa Pinkola Estés.

Observando os mitos e histórias do arquétipo da Mulher Selvagem.

Concordo: "Todas nós mulheres temos anseio pelo que é selvagem."

Até o cheiro do corpo, que a pele exala é diferente, atrai.

"Existem poucos antídotos aceitos por nossa cultura para esse desejo ardente."

A religião é o antídoto, a amarra, o engessamente, o enformamento para que as mulheres não sigam seus instintos.

"Ensinaram-nos a ter vergonha desse tipo de aspiração."

Pois a mulher que se expõe é sem vergonha, despudorada, oferecida, imoral, sem escrúpulos, sem limites; ou seja, ela é sem fôrma, sem doutrinas, sem adestramento.

"Deixamos crescer o cabelo e o usamos para esconder nossos sentimentos."

Somos condicionadas a usar os cabelos para nos ocultar ou nos exibir, nos ofertar.

Estou na fase de não querer usar máscaras, nenhuma máscara, começando pelo cabelo; parei de pintar o cabelo, parei de mascará-lo, mostrando algo que não sou.

Sempre tive cabelos brancos, desde sempre, nem sei quando apareceu o primeiro, aos 10 anos, aos 15 metade dos cabelos já eram brancos.

"No entanto a mulher espectro selvagem ainda nos espreita de dia e de noite."

Meu ser interior me pede para eu ser real, verdadeira.

"...transformados à força em ritmos artificiais para agradar os outros."

A mulher está perdendo completamente a originalidade do seu exterior, porque o interior dela já foi arrancado.

Uma mulher que faz tantas

Aquelas que se negam a entrar neste padrão são chamadas de rebeldes e selvagens. Sempre tive apelidos ligados à selvageria, o que nunca esqueci foi do Capitão Caverna. A tal reputação equivocada me persegue.

Já fui uma MULHER SELVAGEM, como os lobos, com percepção aguçada, um espírito brincalhão, com uma elevada capacidade para a devoção, gregária, curiosa, resistente, forte, intuitiva, zelosa com minhas crias parceiro e matilha; eu tinha uma determinação feroz e uma extrema coração. Hoje perdi completamente o meu referencial de vida.

Já caminhei entre raios e relâmpagos, debaixo de tempestades, gritando ou chorando, sempre lutando; às vezes penso que cansei de lutar, não é verdade, não sei viver sem lutar.

"A morte venha aos que estão morrendo"

Sou estranha, sempre me senti esquisita, um ser fora do contexto, fora de toda realidade que eu vivia. Uma eterna observadora da realidade que me cercava, desde antes de completar um ano de idade.

Tentei criar uma realidade para ver se sentiria diferente. Resolvi ser mãe. A gravidez foi a coisa mais estranha que me aconteceu, cada uma delas; em todos os sentidos eu me sentia esquisita... como um animal carregando um filhote que está prestes a nascer sem as frescuras e os frufrus.

O parto foi entorpecido, os 3, um horror; a amamentação odiei, não gostei.

No meu entender realizar as 3 funções:

São funções que fazem parte da da natureza animal, que todo ser que é mamífero fêmea fértil passa por ela.

"PROVA DA NATUREZA"  citada por ela para mim não serve. Eu me sentia uma estranha carregando um alienígena, não tinha vínculos, laços. Nem um parto natural sou capaz de ter, outro choque para o meu corpo, nos 3 partos eu estava completamente dopada, sedada. Amamentar é esquisito, alguém te sugando, mas deve ser feito, sou mamífero fêmea, devo amamentar, cumpri meu papel.

Não adiantou a experiência, continuei esquisita.

"Ela brota quando percebem que dedicamos pouquíssimo tempo à fogueira mística ou ao desejo de sonhar, um tempo ínfimo à nossa própria vida criativa, ao trabalho da nossa vida ou aos nossos verdadeiros amores" PROVAS DA NATUREZA"

Minha fogueira mística apagou. Meu desejo de sonhar se foi... Minha vida criativa adormeceu... Perdi completamente meu referencial de vida.

Me livrei da mesa de trabalho, dos relacionamentos, esvaziei minha mente, virei uma nova página e nada tenho para escrever. Rompi com tudo e com todos, desobedeci todas as regras, parei o mundo,  parei com o mundo. Não consigo prosseguir, seguir adiante, não sei para onde ir.

Deixei de ser alvo de predadores.

"Não estou mais enclausurada num relacionamento, num emprego, ou num estado de espírito pequeno demais"

Mas a minha luz se apagou, já fui aquela que brilha como o sol.

"A Natureza Selvagem possui uma vasta integridade"

Minha natureza selvagem me preservou durante a vida.

"Cada uma de nós recebe uma célula refulgente que contém todos os instintos e conhecimentos necessários para nossa vida"

Percebi isso quando era bem pequena, tenho lembranças de antes de um ano de idade.

"Ela sussurra em sonhos noturnos"

Fui avisada em sonhos.

"Nossos milhares e milhões de encontros intrapsiquicos com ela , em nossos sonhos noturnos e pensamentos diurnos em nossos anseios e inspirações são a confirmação de que ela existe."

Depois que rasguei as agendas voltei a sonhar com relacionamentos.

."As histórias conferem movimento à nossa vida interior, e isso tem importância especial nos casos em que a vida interior está assustada, presa, encurralada"

As histórias escritas nas agendas trouxeram um peso muito grande sobre mim. Me deu um sonho em que eu ministrava o perdão sobre o passado na vida de alguém que eu estava conversando, um homem do meu passado.

"As histórias lubrificam as engrenagens, fazem correr adrenalina, mostram-nos a saída, e, apesar das dificuldades abrem para nós portas amplas em paredes anteriormente fechadas, aberturas que nos levam à terra dos sonhos"

Esse sonho me levou a rasgar as agendas, cada página escrita, queria queimá-las, temi pelo clima seco, então rasguei tudo e me senti livre quando coloquei tudo no container.

"Na realidade ela não consegue vicejar na atmosfera imposta do politicamente correto ou quando é forçada a se moldar a velhos paradigmas obsoletos"

Tive que romper com o passado, largar tudo o que é obsoleto, não aceito imposição do mal, viver de poeira, comer migalhas que cai da mesa, raspas e restos não me interessam.

l"Ela viceja em visões novas e integridade individua"

Quero sentar à mesa em boa companhia e me alimentar do melhor com integridade, novas visões.

"Ela viceja a própria natureza da Mulher Selvagem"

Não abro mão do que sempre fui: uma Mulher Selvagem, Capitão Caverna com direito a grito de guerra.

"Vamos cantar nossa carne de volta aos nossos ossos"

Volto a cantar e o canto enche meus ossos de vida.

Como Ezequiel orou sobre o vale de ossos secos e os ossos se encheram de carne, ficaram em pé e formaram um grandioso exército.

Meu canto é meu grito de guerra de volta pra vida.

"Despir quaisquer mantos falsos que tenhamos recebidos."

Dispo todo manto falso que tiver recebido seja lá de quem for, rejeito, não aceito, tal manto não é meu, não me pertence, assim me dispo dele, de todo manto falso.

Como está escrito no livro de judas: aborrecei até a roupa manchada de carne.

."Assumir o manto verdadeiro do poder do conhecimento e do instinto"

Assumo o manto verdadeiro do poder do conhecimento e do instinto.

"Invadir os terrenos psíquicos que nos pertenceram um dia"

Invado os terrenos psíquicos que me pertencem, que sempre me pertenceram, são meus terrenos psíquicos.

" Desfradar as faixas, preparar a cura"

Desfraldei as faixas, preparei a cura.

Comentários Gláucia Carneiro