"A Primeira Traição é essa: NÃO SE TRAIR."GetAttachment.aspx (1)

"A coisa mais importante para qualquer um é não se trair, é a única coisa da qual a gente nunca se perdoa."(Contardo Calligaris)

"Você pode até se perdoar, mas a culpa de ter se traído a si mesmo dura para sempre."

Trair "as suas ambições, as suas aspirações, os seus desejos, inclusive esse seu próprio pensamento moral... Isso fica, fica para nos adoecer."

(Psicanalista Contardo Calligaris, entrevistado no Roda Viva, por Marília Gabriela)

Este trecho da entrevista mexeu muito comigo, não toda a entrevista, mas este trecho especificamente.

Porque o tema TRAIÇÃO tem me afetado muito neeses últimos tempos, de todas as formas e maneiras possíveis e impossíveis.

Não a traíção masculina, por ter sido criada por um homem infiel à sua esposa, jamais esperei fidelidade de homem algum em um relacionamento.

Meu pai contava com vanglória seus casos amorosos, suas noivas, as mulheres que ele havia pedido cada uma em casamento, e que haviam ficado esperando por ele Deus sabe lá até quando.

Ele falava que casamento e filhos só atrapalhava a vida das pessoas de viverem uma vida livremente.

Não é à toa que minha mãe 10 anos depois de casada com ele foi embora de casa, deixando pra trás casamento e filhos; ela seguiu os conselhos dele.

Não, a traição masculina é sempre esperada, é dolorosa, mas esperada.

Estava sofrendo com a traição de filhos e filhas, sim, daqueles que damos a vida direto de nossas entranhas, que tiramos de dentro de nós, que damos quase tudo, por não termos tudo para darmos a cada um deles e delas.

Daí vem a traíção desse ente tão amado, tão querido, tão desejado, tão esperado, tão amparado, tão abraçado, tão carregado ao colo, tão acariciado, tão aconchegado ao peito!

Vem e trai sem dó, nem piedade: um guarda uma arma de um bandido em sua casa a outra se droga e trafica porque é divertido.

Dar o sangue, abrir mão de sonhos e utopias para exercer a maternidade, porque ser mãe era um objetivo sagrado.

Daí vem o filho e a filha e profanam o sagrado sem misericórdia, como se ser mãe fosse ser um lixo, fosse ser um nada.

Mas mãe é só isso, é só ser mãe, mas nada.

Pensei que a traíção tivesse acabado por aí, porém, contudo, todavia, no entando, entratanto, vem a pior: a traíção da “amiga”.

Não existe coisa pior, macho trair a gente até aceita, mas amiga! A gente risca o chão e manda cair pra dentro, é box na certa.

Se não for box no ringue, é na surdina sem ninguém saber, porque mulher nenhuma perdoa traição de amiga.

Ela investiga, ela  especula, procura os pontos fracos, mais cedo ou mais tarde ela vai derrubar a outra, ora se vai.

Até que eu ouvi esta fala deste psicanalista, Calligaris, um cara que eu nunca tinha ouvido falar dele; e esta fala dele mexeu comigo.

Me deu um alerta, um  Insight; de repente eu me vi olhando para mim mesma.

EU ME TRAÍ.

Fui me lembrando da minha infância, das pessoas que observei, das cenas que presenciei, do que vivi, do que prometi a mim mesma que não me permitira.

Eu  trai as minhas ambições, trai as minhas aspirações, os meu desejos, abri mão de ter uma família, isso me adoeceu literalmente.

Já que todos os homens são infiéis, para quê eu iria ter um marido, e o meu sonho de ter uma família completa foi despenhadeiro abaixo.

Família é papai, mamãe e filhinhos, não adianta querer criar outro ”esquema”, ou “protótipo”, é mentira, é furado; quem trabalha com ensino/educação sabe disso.

Permiti que o meu pai matasse o meu sonho de ter estudado outra coisa aos 15 anos; que burrice, era só deixar passar os 3 anos e estudaria o que eu queria.

Não foi ele quem matou o meu sonho, foi eu, eu mesmo; fiquei tão irada, que detonei meio mundo.

Fiz o que ele quis, estudei o que ele quis, mas nesses 3 anos, fiquei maior, saí de casa grávida, com a roupa do corpo e nunca mais voltei.

Eu fiz isso comigo. Amava estudar. Meu sonho era universidade federal e pesquisa sempre; em seguida ter filhas e um bom emprego.

Fiz faculdade particular, tive filhos e filhas, emprego e pesquisa nada.

Graças a mim, me limitei na linha da mediucridade, por ter traído a mim mesma.

Ser filha única, não ter irmã, na necessidade de aceitação, de ser aceita como mãe solteira, pois passei a ser um problema social da década de 80, precisava fazer amigos senão pirava, não conseguia conviver comigo mesma; então aceitava vários tipos de amigas.

Fui fazendo amizade que não tinha nada há ver comigo, até aí tudo bem, mas andar com, andar junto é quase impossível, como é que eu não percebia.

Alô! Meu telefone ainda é analógico, é a fichas, nicas; demorou a ficha cair.

Como é que eu ouso dizer que amiga me traiu, se ela nunca demonstrou ser minha amiga.

Sempre digo que amizade é uma via de mão dubla, tem que haver um ir e vir, tem que existir o fluir.

Se a via é de mão única, ela vai, vai, vai sempre sozinha; não existe amizade.

Então eu não fui traída, EU ME TRAÍ.

 

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